Falar de Lean, é falar de combate aberto ao desperdício mas, afinal, onde podemos encontrar esse desperdício e que tipo de desperdício existe?
Comecemos por definir desperdício. Desperdício são todas as ações, processos e materiais que o cliente não percecione como acrescentando valor ao bem ou serviço que adquire. Exemplos disto são a reposição de stock na loja ou carregar papel na impressora.
No entanto, nem todo o desperdício pode ser eliminado de imediato. A este tipo de desperdício chama-se muda (palavra japonesa para designar desperdício) tipo 1. É desperdício, mas é necessário para que o sistema ou processo funcione. Exemplos deste tipo de desperdício são a verificação de produtos entregues por fornecedores ou as deslocações ao banco para depositar cheques.
Por outro lado, existe o desperdício do tipo 2, que não é necessário ao funcionamento do sistema e deve ser eliminado de imediato.
Vejamos agora, onde pode procurar muda, na sua empresa, recorrendo às 7 categorias de desperdício identificadas por Taiichi Ohno (1912-1990) e Shigeo Shingo (1909-1990):
1. Excesso de produção
Produzir mais do que vende, produzir o que ninguém compra, conduzindo a um consumo desnecessário de recursos, ocupação de espaço de armazenamento, excesso de stock, redução de margens para tentar vender, monos e mais consequências desagradáveis;
2. Tempo de espera
Enquanto o colaborador A desempenha a tarefa X, o colaborador B espera para poder desempenhar a tarefa Y ou enquanto a máquina C produz 10.000 peças do tipo W, a máquina D está parada, à espera de montar a peça do tipo Z na W. Todos os tempos de espera impedem um fluxo contínuo de processos e tarefas, sendo alvo primários a eliminar;
3. Transporte
O
stock do produto E está a estorvar? É preciso transportá-lo para outro lugar, de forma a poder armazenar o produto F? A fotocopiadora avariou e o economato está na cave do edifício? Todas as movimentações de produtos ou pessoas, resultantes de falta de método ou planeamento, são desperdício a eliminar;
4. Excesso processual
Fazer uma fatura demora 5 minutos, quando deveria demorar 30 segundos, porque são feitos muitos cliques no rato e o operador não conhece os atalhos de teclado? É preciso voltar a embrulhar o produto porque o primeiro embrulho ficou mal feito? Sempre que se executam tarefas a mais, para além das estritamente necessárias para entregar um bem ou serviço, temos um excesso processual que é preciso eliminar;
5. Inventários
Ter stock a mais é um sinal claro de desperdício. O stock custa dinheiro, perde valor e ocupa espaço. O excesso de stock é fácil de verificar e tem de ser eliminado;
6. Defeitos
Um defeito origina trabalho extra para correção, custos adicionais para a empresa, reclamações de clientes. Identificar um defeito na linha de produção é bom, identificar a causa do defeito é a lean way;
7. Trabalho desnecessário
Imagine-se na farmácia, quer pedir 3 medicamentos mas, mal pede o primeiro, o farmacêutico vira costas para o ir buscar, volta e pergunta se quer algo mais. Pede o segundo e o cenário repete-se. No final, o farmacêutico faz 3 viagens ao interior da loja, faz-lhe perder tempo e ainda presta um serviço de fraca qualidade. É preciso ser pragmático a executar tarefas e fazê-las da forma mais eficaz.
Como poderá verificar, estas categorias cruzam-se, por vezes, e têm, em si, uma característica intrínseca de causa e consequência, podendo ainda ser acrescentadas outras, de forma a refinar o seu âmbito e a adaptá-las à atividade da empresa, mas, independentemente das categorias, dos seus nomes e da sua abrangência, o importante é treinar o olhar para detetar o desperdício, onde quer que este se encontre e promover a eficiência no dia a dia.